Breno Dotado and Serge Bear fuck
O circo “Sombra e Luz” não era um lugar para os comuns. Era um refúgio para os diferentes, os quebrados, os que carregavam marcas estranhas. Breno Dotado era sua atração principal. “O Homem-Biblioteca”, eles o chamavam. Sua pele, do pescoço aos pés, era um mosaico de palavras e ilustrações tatuadas que contavam histórias que ele mesmo não conseguia ler completamente. Era um livro humano, belo e triste.
Serge Bear era o novo segurança do circo. Um homem enorme e silencioso, com ombros largos e uma presença calmante como a de um urso em hibernação. Ele não falava muito; sua linguagem era a observação.
Enquanto a multidão se aglomerava para ver Breno, sussurrando e apontando para as histórias em sua pele, Serge ficava na sombra, observando não as tatuagens, mas os olhos de Breno. Ele via a vergonha misturada com o orgulho, a solidão no centro de toda aquela atenção.
Uma noite, após o último espetáculo, Serge encontrou Breno sozinho na arena vazia, encolhido sobre um baú de maquiagem.
“Eles só veem as palavras”, Breno sussurrou, sem olhar para cima. “Ninguém nunca pergunta o que elas significam.”
Serge se aproximou, sua sombra enorme engolindo a de Breno. Ele não disse nada. Apenas ajoelhou-se, e com um dedo que era ao mesmo tempo enorme e incrivelmente gentil, tocou uma linha de texto que serpenteava pelo antebraço de Breno.
Ele não leu em voz alta. Ele apenas seguiu a linha com a ponta do dedo, como quem lê braille. Seu toque era quente e firme, um contraste com a pele constantemente fria de Breno.
Breno ficou paralisado. Ninguém jamais o tinha tocado daquela maneira. Sem ser um espetáculo. Sem ser uma curiosidade.
“Esta aqui”, Serge falou, sua voz um rosnado baixo e suave, “fala de um rio que você atravessou quando era menino. Você quase se afogou, mas viu o sol brilhar através da água e decidiu que queria viver.”
Breno olhou para ele, seus olhos arregalados. “Como… como você sabe?”
“Eu leio”, Serge encolheu os ombros, seu dedo movendo-se para outra passagem, perto do coração de Breno. “E esta… esta fala de uma noite de inverno. Você estava com tanto frio que jurou que nunca mais sentiria calor. Mas você sente saudades desse frio, porque era real.”
Era a verdade. Cada tatuagem era uma memória, uma dor, um triunfo que Breno encapsulava em tinta para não ser esquecido, mas também para não ter que falar sobre isso.
Naquela noite, e em muitas que se seguiram, Serge leu Breno. Ele lia as histórias de coragem nas costas, a história de um amor perdido perto do quadril, os sonhos secretos escondidos na parte interna de seu braço. Ele lia Breno melhor do que Breno jamais se lera.
E, pela primeira vez, Breno não se sentiu como um livro aberto para o mundo. Sentiu-se como uma história sagrada sendo lida por seu único e verdadeiro devoto. O homem forte e silencioso não precisava de palavras para se expressar; seu toque, sua presença constante, era uma linguagem mais profunda.
Numa noite tranquila, sob o dossel de lona do circo vazio, Breno pegou a mão enorme de Serge e a colocou sobre uma nova tatuagem, ainda vermelha e sensível, perto de seu peito. Era a silhueta de um urso e uma constelação de pontos que se assemelhava a um coração.
“Esta é nova”, Serge sussurrou.
“É a sua história”, Breno respondeu, sua voz trêmula. “A do urso que aprendeu a ler um homem e, ao fazê-lo, o tornou inteiro.”
Serge não disse nada. Ele apenas puxou Breno para um abraço, seu corpo grande envolvendo completamente o corpo ilustrado do homem-livro. E naquele silêncio compartilhado, cheio de histórias não ditas e toques que diziam tudo, eles encontraram um amor que não precisava de palavras—apenas da verdade simples de serem lidos, e aceitos, até a última página.




