Hunter Woohan – massaged and jerked

**Hunter Woohan** carregava um nome que era um fardo. “Hunter” – Caçador. Ele não caçava animais ou histórias, mas um fantasma: a versão de si mesmo que seu pai, um lendário cirurgião, esperava que ele se tornasse. Sua vida era um labirinto de livros de medicina nunca abertos, expectativas não cumpridas e o silêncio gelado do desapontamento. Ele era um fugitivo na própria pele, um homem à procura de um porto que não fosse um consultório.
O amor entrou em sua vida de forma silenciosa, não como uma pessoa, mas como um lugar: uma livraria de segunda mão chamada **”Páginas Soltas”**. Era um labirinto poeirento de histórias esquecidas, cheirando a papel envelhecido e café velho. Lá, Hunter não era o filho do Dr. Woohan. Era apenas um homem de jeans surrados que gostava de poetas beat e romances russos tristes.
E foi entre aquelas pilhas instáveis de livros que ele encontrou **Elara**. Ela não era a dona, mas a alma do lugar. Uma encadernadora que restaurava livros danificados no fundo da loja. Seus dedos, manchados de cola e tinta, eram capazes de dar nova vida a histórias despedaçadas. Ela falava pouco, mas seus olhos cor de avelã observavam o mundo com uma calma que Hunter nunca possuíra.
Ele a via trabalhando, pacientemente recompondo a espinha de um *Moby Dick* ou colando uma página solta de um *Dom Casmurro*. Havia uma reverência em seus gestos, um amor silencioso pelas coisas quebradas.
Hunter começou a ir todos os dias. Comprava um livro barato apenas para ter uma desculpa para ficar. Um dia, coragem emprestada de um Bukowski, ele falou:
“Você conserta coisas que o mundo esqueceu.”
Elara ergueu os olhos, um pequeno sorriso nos lábios. “Não conserto. Devolvo a elas a dignidade. Tudo que foi amado merece uma segunda chance.”
Aquela frase ecoou dentro de Hunter como um grito em um canyon. Ele era uma coisa quebrada que ninguém nunca havia amado o suficiente para consertar.
O amor deles não foi dramático. Foi o silêncio compartilhado da livraria após o fechamento. Foi Elara ensinando-lhe a costurar a lombada de um livro, suas mãos tremulas guiadas pela firmeza das dela. Foi Hunter, pela primeira vez, contando sobre a sombra do pai, sua voz um sussurro entre as estantes. Ela não o interrompeu. Apenas ouviu, como se estivesse colando os pedaços de sua história.
Foi ele, semanas depois, chegando à loja com uma caixa. Dentro, estava o diário de sua adolescência, cheio de raiva, confusão e páginas arrancadas.
“Este é o livro mais danificado que eu tenho,” ele disse, a voz embargada. “Acha que merece uma segunda chance?”
Elara pegou o diário, segurou-o com a mesma reverência com que segurava um clássico.
“Todo autor merece uma segunda edição,” ela respondeu, seus olhos encontrando os dele. “Principalmente o autor da própria vida.”
Naquele momento, sob a luz fraca de uma lâmpada pendurada, cercado por milhares de histórias, Hunter Woohan finalmente parou de caçar. Ele havia se encontrado. E encontrado, no refúgio tranquilo dos olhos de Elara, um lugar para chamar de seu.




